terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Sobre o fim do mundo

          Sou aqui apenas mais uma dissertando sobre o assunto mais comentado de 2012: o fim do mundo. Gostaria de depositar aqui nestes parágrafos o que eu penso de quem pensa que o mundo explodirá, se espatifará no meio do nada, será invadido por seres mais inteligentes que nós, enfim; e deixar a minha visão de 'fim de mundo'.
          Ao contrário de todas as outras vezes, serei direta: sinto pena daqueles que se empacotam da cabeça aos pés, sem deixar um único fio de cabelo para contar seus relatos sobre essa patética polêmica. Outro dia estava assistindo ao noticiário e mostrou-se alguns casos de crentes nesse acontecimento. Eu achei, sinceramente, que tinha me confundido e trocado para um canal qualquer de comédia. É lamentável a falta de noção sobre a cronologia da Terra e do mínimo de discernimento.
          Desculpem-me se parecer esnobe da minha parte, mas eu tenho a melhor professora de Geografia da  história! Em uma segunda-feira como outra qualquer, com inacabáveis aulas de Física pela frente, eu só queria aproveitar cada segundo daquela aula de vida, sugar o máximo possível daquelas veias onde corriam coordenadas geográficas. Rosa, com todo seu peculiar jeito de transmitir informações anti-alienativas, nos confortou, dizendo numa sinfonia de emoções - entre elas a inquietação, como sempre -, que a maior besteira que o homem poderia ter inventado é essa conversa de apocalipse e afins. Então, meus amigos, fiquem tranquilos e se aquietem no sofá, porque Salve Jorge ainda está longe de terminar.
          Não haverá, nem tão cedo, um fim do mundo geral, uma morte súbita e repentina de todo infeliz terreno. O fim ocorre aos poucos, e abraça cada um de nós, trazendo-nos, dia após dia, para mais perto dele. Todos um dia terão seu fim a fim de encontrarem-se com o Único infinito, de uma vez por todas. Pelo menos eu acho que é assim. O fim do mundo ocorre quando nossas perspectivas já são meras lembranças no coração de quem ficou. É o fim do nosso mundo; das nossas alegrias. Dos nossos anseios e angústias, sofrimentos que preferimos deixar na fronha do travesseiro. "O mundo acaba para todos os que morreram."
          Possuo dois olhos, dois lados no cérebro, duas grandes veias no coração, portanto, duas visões: quantas vezes seu mundo acabou até aqui? Eu, particular e pleonasticamente, tenho vivenciado frequentes ocorridos apocalípticos nos últimos quinze anos.
          O mundo da gente acaba junto com um relacionamento que jurávamos ser o-da-vida,  quando recebemos a notícia do mundo de um ente querido que se acabou. O mundo da gente acaba quando somos adolescentes e nada parece fazer sentido, tudo nos aborrece, nos entristece e nos fascina. Aí nosso mundo brilha, solta faíscas e papeis picados: a paixão chegou ao nosso mundo, talvez pela primeira vez, arrebatadora e imprevisível. E lá vai nosso mundo acabar outra vez. O fim do mundo na minha faixa etária ocorre a partir do momento em que nos vemos em situações desesperadoras, como se não houvesse nada ao nosso lado, nem na nossa frente - só nosso nariz -, e, tampouco, atrás de nós. É como se gritássemos mas ninguém ouvisse. Ou, por exemplo, quando toda nossa família segue toda a vida de encontro a nossas opiniões e dissertações sobre tolerância e liberdade.
          Bem, no momento, às 4:26 da manhã, já enxergo o fim do meu mundo quase nascendo com o Sol, e e eu aqui insistindo em detestar café. Boom!


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O chão do telhado

       Tinha uma casa. Na casa tinha uma menina. Na menina tinha um coração que batia forte por um moço. No moço tinha a galanteza, o sorriso e a alma. Na alma dele tinha um desejo brando de permanecer para sempre na menina da casa. Na casa tinha um telhado. Um telhado mágico, que era o tablado dos desencontros, das inconstâncias e das danças. Ah, eram muitas as noites que o moço e a menina passavam ali, naquele telhado, como se, fora dele, a gravidade fosse separá-los da glória.
       Tinha um luar. No luar, tinha a esperança de desejo recíproco perpétuo. No para sempre tinha o medo na insuficiência, afinal, tinha muitos milênios nos quais o moço e a menina estavam juntos. Na menina tinha um elo infinito com o moço em seu dedo esquerdo. No dedo tinha uma verruguinha imaginária por contar as estrelas no telhado. Na estrela tinha o brilho no olhar da menina, que refletia no firmamento até pairar sobre a pele do moço, sob a luz da Lua e a temperatura dos beijos. No beijo tinha a confirmação daquela paixão arrebatadora que começou no telhado.
       Tinha um telhado. No telhado tinha o chão, que suportaria tudo isso durante a curta eternidade que o moço e a menina teriam para amadurecer e partir para outros telhados.
       Tinha uma vida. E outra vida. Teria tudo isso se a vida que se tinha não tivesse sido tão injusta e mais curta que a eternidade. Tinha tudo, mas não tinha nada.



quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Renovar-se

Ser novo de novo um ser novo
Ser do povo, qualquer um, mas novo
Novas risadas gritos choros
É tudo novo de novo
Tudo de novo, mais uma vez.
Renovo, concordo, discordo
Mudo de opinião
Sou novo ser biológico
                     [físico mental
Mentalizo e faço sempre
Tudo de novo.
O ovo que é a vida é novo
E sempre será de novo.
Reflito teço o terço
Sempre outra vez.
Sou quem sou mas queria
Às vezes não ser.
Sempre renovar a parte
Que menos é comum
E incomum será de novo
Até o fim de mim.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Pelos caminhos da humanidade

            “Assim caminha a humanidade: com passos de formiga e sem vontade.”
            É assim que decidi começar esta crônica. Lulu Santos, vou confessar, nunca foi minha fonte de inspiração, até porque sou preferência à natureza e aos meus próprios questionamentos. Mas, dessa vez, este é o meu questionamento: Como caminha a humanidade? Aonde esta máquina pretende chegar? Por que nunca chegamos a um denominador comum com relação a tudo? Vamos, então, às respostas (minhas).
            Vive-se no planeta uma regressão geográfica pela qual nunca esperamos. Sim, estamos prestes a ver a Pangeia se reencaixar e começar tudo de novo. Todas as guerras. Todas as intolerâncias e todas as lágrimas que o mundo já chorou.  Vamos viver na pele as aulas de Geografia, quando enxergávamos aquele único bloco de terra tão remoto. Não é mais. Não dá mais.
            Não há mais o que se fazer pelo enfermo planeta Terra, que suplica pelo recomeço, quando tudo era tão pleno, quando tudo pertencia a ele, as águas, a flora, a fauna. Tudo parecia estar em seu devido lugar, quando o homem sentiu pela primeira vez o cheiro da pólvora e teve gosto pelo conflito. Tudo o que estava sob controle foi se perdendo num infinito de outras coisas mais que me trouxeram aqui hoje.
            Com quantas formigas se dá um passo de elefante? O estoque armazena sete bilhões de formiguinhas para serem dados oito bilhões de passos de elefante. Só assim o mundo será salvo porque, desculpe-me por estragar sua vida, mas super-heróis não existem. Pelo menos não aqueles com super poderes. O único ‘’super’’ por aqui é o faturamento. Esse tal de super faturamento vive por salvar a reputação e a ostentação de muitos magnatas, principalmente de um ocidental aí que banca uma de dono do mundo. Palmas para quem sabe de quem estou falando.
            Pensando bem, talvez a humanidade esteja mesmo sem vontade de caminhar, de continuar. E eu, como parte do todo, não hesito em concordar. Meu Deus, de quê adianta dar passos de elefante?Para acelerar o processo de degradação biológica comum a todos nós? Se não for câncer, será a AIDS. Pesquisas afirmam que ninguém se esquivará do tiro certeiro do câncer. Já imaginaram?
            A sociedade dos verdadeiros heróis, a dos honestos (quase dizimada) e dos pensadores ainda tenta rastejar, sedenta, pelos solos áridos e inférteis. Nada mais há de crescer no plano terrestre, e o que crescer será daninho. Pra quê serve uma erva daninha? É lixo. A sociedade dos poetas vivos está farta de escrever cartões de melhoras. É ruim ficar na expectativa e não ver nada evoluir. E assim caminha a humanidade alheia ao caos.
            Caos. Alguém me dê um sinônimo convincente. Enquanto ninguém se voluntaria, usei um que até extrapola os limites do caos. Síria. Este país do tamanho de um grão de mostarda, preso no meio do Oriente Médio, mais parece um grão de milho estourando a cada segundo. É assustador pensar que, a cada instante, uma criança, ou mulher, ou estudante é fuzilado pela putrefata ditadura síria. E assim caminha a humanidade islâmica, a terrorista ocidental e religião do futuro.
            Por outros cantos do mundo, caminha a humanidade ignorante, à deriva de informações tantas, mas isso não é bom. Esta humanidade que se desprende da ganância, que sofre das doenças mais rudimentares e – quase – erradicadas, que se esconde na toca da mídia, levanta as mãos em oração e logo as abaixa, vazias. Pedem por dignidade os povos da miserável África pirata. Rezam para seu deus por um ar respirável e, no dia seguinte, morrem de tuberculose. “Ah, ninguém mais morre de tuberculose!”. Na verdade, morrem de ser fortes. São de ferro os soldadinhos que marcham em direção ao cara-a-cara com a Dona Morte. Assim marcha, por becos escuros, as meninas diariamente estupradas que, mesmo vivas, já estão mortas.
            Assim caminho eu, sempre a imaginar dias que nunca nascerão, buscando inspiração na natureza morta que me cerca, o que me leva a, infelizmente, escrever sobre a morte do planeta.

sábado, 21 de julho de 2012

Devaneio (outro)

Boa noite. E que noite! São mais ou menos dez horas e a novela das nove está para congelar. Segundo seu GPS, localizo-me em Maricá, município muquirana da Região dos Lagos. Porém, na minha santa paz de meus olhos que vão muito além do enxergar, estou no paraíso. Para ser mais precisa, encontro-me sentada numa rústica cadeira de balanço, os pés apoiados na grade da varanda de um apartamento, muito simpático até. Enquanto você está lendo isso, provavelmente não estarei mais aqui – ou lá, depende do ponto de vista. Quem sabe estarei fotografando o sol poente, ou os barquinhos navegando rumo ao ganha-pão dessa gente.
Um balão de São João corta o céu inacreditavelmente estrelado. Aos poucos, ele vai sumindo no ar, sendo abraçado pelas lufadas (veja, até elas) hospitaleiras deste canto do Estado. Parei. Suspirei. Puxa, ainda não tinha visto um luar tão belo, mas, ao mesmo tempo, tão crível. É real, sei que é. Pronto. O balão desapareceu, agora só restam aquelas miudinhas estrelas, pipocando no Firmamento, esperando para serem contempladas e exploradas.
A brisa fria empurra as folhas dos coqueiros na direção do mar. Volto, pois, minha atenção a ele. De onde estou, não é possível vê-lo, mas posso senti-lo. Sinto as ondas revoltas lamberem minhas pernas, mais que às de Lulu Santos. Sinto o formigamento de quando meus pés afundam na areia, me chamando para amá-la. Ouço com clareza as águas irem e virem, num fluxo perfeito, renovando-se, refazendo-se, reacomodando-se.
Uma curiosidade muito peculiar fez-me concentrar à esquerda, e, assim, esqueci a calma do mar. Meu lado canhoto mostra-me a alegria da pacata e – é verdade – paupérrima população. É a famosa festa julhina da Rua do Canal, que traz sorrisos, xotes, comidas típicas e a cordialidade interpessoal que você só encontra aqui. As luzes da igrejinha azul brilham como nunca, que felicidade!
            A praça central – e a única da cidade – é repleta de jovens zombando de cada esquina deste lugar ordinário e feio. É sim, não há como discordar. Mas sabem de uma única coisa que difere Ponta Negra de qualquer cidade do planeta? Procure por algum semáforo. Aqui vive-se da simplicidade e do respeito, e se não lhe agrada, vá a Búzios, abarrotada de gente vazia e mesquinha.
            As horas vão passando, no tempo delas, sempre corretas. Só depois de quase uma hora, percebi que é hora de viver a vida real, fora das estrelas, da areia convidativa e do mar furioso. É relaxante e bom para a alma ter esses devaneios voluntários, mas, assim como no relógio daquelas horas, o ciclo sempre voltará a se repetir: outro balão atravessa o céu, agora dois.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Cadê minhas horas?

Quero logo tocar o céu, abraçar a Lua e modificar as estrelas. Quero logo ser gente grande, gritar bem alto e ser ouvida. Crescida. Não concordo com o tempo, nunca, ele passa tão devagar! Fica mais um pouco, toma um chá e come uns biscoitos.
            Não vejo a hora de arrancar a barra da saia da mamãe e levá-la para o campus de uma universidade pública. Perco as horas, e, desorganizada que sou, nunca consigo encontrá-las. Atraso-me para tudo, ainda procurando as horas e minutos. Acho que nunca vi as horas. Poxa, estou ocupada demais sonhando acordada, remando sobre as nuvens.
            Quero logo ser perfeita, me graduar, ser alguém, sabe? Saber é tudo. Tudo tem seu tempo. Só falta eu achar as minhas horas. Achá-las-ei. Sê-las-ei. Alcançá-las-ei. Todos esses tempos verbais me soam tão distantes... fazem até eco. Quero logo desmontar o sistema, consertá-lo e ensiná-lo a andar novamente. Estou farta de escrever, em verso e prosa, o que nunca será lido ou terá seu merecido reconhecimento. Estou cansada de ser menosprezada por minha súbita consciência. Preciso de paz. Preciso encontrar-me. Onde é que eu estou? Será que estou junto com minhas horas? Cadê minhas horas?
            Delírios crônicos paragrafados em crônicas, essa sou eu. Sou crônica. Crônica. Para sempre. É disso que eu quero viver, é isso que quero ser. Quero ser inteiramente texto, de células verbais e substantivas. Pele morfológica e sentidos nominais. Com certeza os passarinhos teriam seu canto mais bonito, as flores seriam mais cheirosas, a seda, mais macia e o horizonte, mais pleno, se tudo fosse sentido em forma de texto. Almejo as próximas sagas, sempre, sempre desejo o próximo do que ainda não terminou. Tenho a ansiedade à flor da pele, e, como diz minha mãe, foi por isso que nasci prematura. Uma bobagem que faz sentido.
            Por falar em sentido, não sou contra pedir orientações quando estou sem um mapa, ou simplesmente com preguiça de procurar mais um pouco. Talvez, se não fosse tão preguiçosa, já teria encontrado minhas horas. “Com licença, a que horas Drummond encontrou suas horas? Sabe qual direção devo tomar para encontrar as minhas? Agradecida.”

segunda-feira, 9 de julho de 2012

10:44 a.m.

     Bom dia. É, esse foi o primeiro bom dia em quatro dias. Há quatro dias o meu coração está aleijado, só bate de um um lado, pois o outro desligou-se. As veias e artérias que faziam meu sangue pulsar por completo me deixaram a fim de fazer um outro coração bater por completo. Pouco sangue ainda corre, me mantém quente e livre da morte. O outro bocado foi-se.
     O bom dia começa pela noite. Esta foi a primeira madrugada sem chorar. Parece até aqueles testemunhos da A.A.A. (Associação dos Alcoólicos Anônimos). Ótima ideia, poderia, desde já, reunir corações pernetas ou amputados à darem suas declarações e gritarem suas superações. "Esta noite não chorei por nós." Por isso foi uma boa noite. Bons dias são decorrentes das boas noites, assim como o riso é a consequência da comicidade e as lágrimas, da solidão. A solidão nos fortalece mais que qualquer outro estado de espírito, sabem por quê? Simplesmente porque não há em quem se apoiar para levantar, ou em quem enxugar o choro amargo e salgado da dureza de perder alguém. Na hora da solidão, é tudo por nossa conta!
     Noite passada, tomei umas boas doses de esperança e alimentei-me de mais outro sonho. Sim, eu sou o ser mais teimoso que já pisou nessa Terra, mas não consigo parar de sonhar. Vivo dos meus sonhos, já que me disseram, quando eu era menor, que, se sonhamos, temos que correr atrás deles. Querer que se realizem já motivo suficiente para tentar. Bom dia! (Segunda-feira, 09/07/2012, às 10:44)

sábado, 7 de julho de 2012

Interrogações de mais uma magoada

     Por que a felicidade nunca pode durar uma vida inteira? Dizem que encontramos a felicidade duradoura nas pequenas coisas, mas e o amor? Não é ele quem deveria nos proporcionar momentos realmente épicos e inesquecíveis? Estamos sempre, principalmente os de boa fé, determinados a pensar naquele ''até que a morte os separe'' e em qualquer conto extraordinário que acabe no ''felizes para sempre''. Todo eles. Escrever sobre a não-reciprocidade no amor é tão difícil quanto escrever sobre o amor em sua forma bruta. Na verdade, passar sentimentos para um papel é árduo, mas a recompensa é incomensurável. Sentimo-nos mais leves, parece que uma dinamite explodiu no coração e expeliu todas as angústias, todas as mágoas e inseguranças que possam estar brotando.
     Hoje, senhores, venho lhes testemunhar a experiência de cair no abismo da amargura e ser beijada pelo Judas do egoísmo e da hipocrisia. Apenas não consigo digerir a ideia de esses dois traços ainda não estarem extintos. Como pode alguém te amar tanto a ponto de omitir que esse amor, na verdade, não é de seu poderio? Ele simplesmente não te pertence, não é para você. Talvez esse seja o original ciclo da vida: você deixa alguém por outra pessoa, e esta te deixa por outra, e segue sucessivamente.
    Não é que eu não aceite o fim de um relacionamento. Não consigo é aceitar o modo como ele acaba. O motivo. Quantas mais rosas seriam compradas? Quantas mais palavras seriam gastas por um amor sujo e errôneo? Quantos mais sonhos seriam sonhados, quantos mais pensamentos seriam pensados a troco de mentiras e uma covardia tão rudimentar? Tudo bem que era inevitável que esse pavio estourasse, mas o impacto da bomba só dependia de nós. Se a verdade emergisse no meio dos escombros antes de todas as vítimas falecerem, talvez ainda houvesse algum sobrevivente.
     Lembro-me de um trecho de minha autoria que diz assim: "Tudo isso é amor maciço e indestrutível. Eu te amo em todas as línguas e religiões. Em todas as doutrinas e distâncias." Não há como não te amar. Não há como apagar tudo o que passou, até porque não sou esse tipo de pessoa. Foi como um conto de fadas, exatamente: o príncipe surgiu dos raios reluzentes do sol, cheio de si. Porém, meus caros, foi embora num jegue capenga e fraquinho, coitado. Talvez fosse melhor mesmo o despertador ter tocado para me fazer acordar de toda essa fantasia que eu mesma criei. Só eu.
     Entrarei agora num processo de desintoxicação amorosa, um rehab sentimental, para abafar todas as frestas de apreço que ainda tinha pela pessoa por quem me apaixonei. Abrir a janela da vida cruel e deixar as lufadas arejarem meus pensamentos com toda a malícia e peculiar crueldade que esse mundo nos oferece.

terça-feira, 3 de julho de 2012

I'm sorry, pardon, scusa. Desculpe-me.

            Desculpa-me pelas vezes em que eu te ignorei, pelas vezes em que eu não pude ajudar você em alguma dificuldade. Desculpa-me se algum dia eu te fiz chorar de tristeza, de raiva, de saudade. Eu sinto tanto a sua falta! Desculpa-me por te amar tanto, tão grande que até esqueço-me do mundo que gira fora do meu coração. Desculpa-me por não conseguir te odiar nem um pouquinho, ou por te querer comigo o tempo todo.
            Desculpa-me por ser tão neurótica e possessiva, e por ficar te pedindo desculpas por tudo. É que eu me sinto na obrigação de ser tão perfeita quanto você. E, se alguma coisa falha, não consigo ‘’deixar por isso mesmo’’. Perdoe-me por ser essa romântica patética, pré-histórica e que, certamente, te dá náuseas. É que eu quero ser teu Shakespeare, te levar rosas todas as noites e te esperar debaixo da tua varanda.
            Perdão pela minha ausência, por pensar em você desde janeiro, sem pausas. Sem descansos. Perdão se é errado sonhar contigo todas as noites, sem exceções. Perdão por querer abraçar o mundo com as pernas, mas essa é quem eu sou. É essa boba quem se apaixona por você cada dia mais. Esperei tanto tempo por alguém que eu pudesse cuidar sem me enganar ou me machucar. Sinto que agora, mesmo com tantos obstáculos, encontrei esse alguém. Sinto muito por esse alguém ser você.

domingo, 3 de junho de 2012

Instrangeirismo


Brother, acende o abajur aí que eu preciso fazer a lista de compras: shampoo, chá, chocolate, baguete, alface, pipoca. Você está com fome? Pensei em irmos comer uma pizza e tomar uma cerveja.”
            Nossa Língua está repleta de palavras oriundas de outras nações em outras épocas, as quais usamos, exageramos e não percebemos. A este fenômeno damos o nome de estrangeirismo.
            O estrangeirismo, até um certo patamar, não é uma ameaça ou motivo de preocupação. Se formos analisar minuciosamente, o Português Brasileiro contém, naturalmente, palavras ou expressões nascidas do Tupi Guarani. Ou seja; não há como fugir dele.
            Vivemos no Brasil uma revolução sem precedentes: tornou-se a sexta economia mundial, gerou um número notável de empregos pelos quatro cantos do país e está completamente globalizado. Mestiço. “Somos o que somos, instrangeiros”, diria Arnaldo Antunes se a abordagem da música “Inclassificáveis” fosse esta.
            Sim. Somos instrangeiros alimentando-nos do mais remexido estrangeirismo. Não sabemos mais quem somos ou por que falamos assim. Talvez sequer sabemos falar. É nítida a analfabetização do povo, o regresso cultural. Estamos, gradativamente, perdendo nossa essência. A bandeira se resume, então, num verde azulado e num amarelo envelhecido. Salve senhor Zé Ramalho. Devo minhas reverências ao estúpido culto do interior da Bahia.
            Sabe o que parece? Um bombardeio palavrial e uma ditadura delas mesmas:
            – Olá, meu nome é Apagar. – disse a franzina palavra brasileira.
            – NO! NOW YOUR NAME IS DELETE! – berrou o ditador.
            – Sim, senhor, sou Deletar, mas não me mate! Tenho seis filhos para criar! – respondeu Deletar, aflito e trêmulo.
            Somos legítimos brasileiros sem um pingo de amor pela nação. Por este motivo, não deixamos de ser ignorantes. Pagar de esperto e “cult” ao escrever na barraquinha de lanches: X-BURGUER e MIXTO QUENTE. Gostaria mesmo é de entrar na cabeça de cada um, junto a um potente aspirador, e lavar o consciente defeituoso de todos nós, até de mim mesma. Fazer uma dieta de cultura; só entra palavra caseira.
            “Eu gostaria de falar com presidente pra cuidar melhor da gente que vive nesse país. Nossa gramática está tão dividida, tem gente falando happy pensando que é feliz.” (RAMALHO, Zé, em Estrangeirismo)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

(´)E a vida.

      Éramos apenas nós. Eu. Água. Sol. Lentes dos óculos escuros. E a vida. A vida que passa por nós como um carro de corrida próximo à linha de chegada. A vida, curto espaço de tempo que temos depois do nascimento e antes da morte. Não pedimos para nascer, e nunca estamos preparados para morrer. Por isso, precisamos aproveitar o que está entre estes dois fatos. A vida.
Acho que esta reflexão sobre a vida em si foi uma das mais proveitosas e intrigantes até agora. Pensei em tudo. Refleti. Perguntei a mim mesma. E respondi minhas perguntas. Parece até que, de repente, estava pensando em tudo o que fiz e deixei de fazer da minha vida, como se fosse a última chance de tentar. Ou de se arrepender.
A vida é mesmo um soco no estômago.  Entretanto, depois que ela nos soca, temos a chance de chorar, expondo nossa covardia hereditária ou podemos, então, respirar fundo, engolir o choro e esperar a dor passar. Esperar. Quem espera nunca alcança. E sim quem sonha. Quem corre atrás. Quem arrisca, mesmo sabendo a proporção do perigo e a margem de erro. Tente. Se cair, levante! Essa, muito prazer, é a vida.
Por outro lado, temos que aplaudir a vida de pé. Não necessariamente a nossa. Podemos, por exemplo, aplaudir um cardume que passa por nós durante um simples passeio de barco. Isso também é vida! O problema é que, muitas vezes, estamos preocupados demais com o valor do passeio, se sairá muito caro. Pare. Admire. Deus nos deu tudo isso a troco de nada! Largue um pouco tudo o que te assusta, o que te atinge e te derruba. Sonhe acordado, não deixe o tempo passar. Mesmo que ninguém acredite, imagine um mundo só seu, com peixes que voam ou pássaros que soltem bolhas de sabão quando cantam. Seria legal. Bonito. Aliás, muito bonito. Só não deixe a vida passar tão rápido que você não possa nem sentir o cheirinho bom que fica depois que ela passa. Acaba.
A viagem é longa. Quero dizer, só para quem sabe para onde viajar e o que levar na bagagem. “É preciso saber viver.” E, por falar em bagagem, é bom preparar uma bem grande: leve tempo, lugares inesquecíveis – os bons e os que seriam melhor ser esquecidos - , amizades certas e erradas. Leve também algumas taças para tomar uns bons vinhos e acordar de ressaca, leve um amor para a vida inteira e uma namoradinha de infância. Leve livros, programas de TV, descobertas e suas perguntas. Não se esqueça da experiência adquirida com o tempo. Nossa, acho que, depois de tantas coisas que temos como bagagem, teremos de sentar em cima dela para que possamos fechá-la. É a vida.
Depois de todo esse devaneio sobre a vida, dei-me conta de que já havia dado quase uma volta inteira na piscina, sendo carregada pelos braços macios e turvos da água, sem mais nada a pensar. A questionar. A responder. Adormeci.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Crenças, crianças e crescenças.


     Crescer é inevitável. A não ser que você morra. Como todos somos sensatos e otimistas, todos crescem. Todos. Qualquer ser humano, por mais anormal que seja, passa por mudanças anatômicas e emocionais. Aí é que entra a adaptação. Muitos não conseguem. Desistem. Ou quase. Falo por mim mesma, nossa, crescer é tão difícil! Tantas mudanças, descobertas, frustrações, caraca, tipo assim, morri! 
     Crianças estão no meio termo. Coitadas. Já fui criança. Ou melhor; eu sou uma criança. Aliás, amigos, todos somos crianças. E nunca deixaremos de ser. Deve estar ficando chata toda essa conversa clichê sobre crescimento, a temida ''conversa'' dos pais. Esta crônica, porém, não implica isto.
     Pequeninos se encantam com as pequenas coisas, falam a verdade que, mesmo que doa, precisa ser dita. Seus pequenos sorrisos com dentes de leite, ou mesmo com um espaço vazio, nos despertam a esperança. Esperança de que essas mesmas crianças, não cometam os mesmos erros que cometemos hoje. Que o amanhã seja mais próspero e pleno. Ou que consertem nossos erros. Como somos gananciosos e burros!
     O tempo passa para todos. As vinte e quatro horas do dia passam para todos nós. Assim como ouvi da boca de um amigo, numa conversa em grupo, ''não importa quanto dinheiro você tem, continuará tendo as vinte e quarto horas para gastar. Não se pode comprar uma hora ou um minuto do tempo de alguém. Quanto tempo você tem?''
     Você deve estar se perguntando: "mas ela estava falando sobre crianças e agora está falando sobre comprar o tempo..." Faz todo o sentido! Envelhecer é um fato, ficar velho é opcional. Certamente já ouvira esta frase. É exatamente isso. Se todas as crianças retumbantes, os adolescentes rebeldes, adultos ocupados demais e idosos experientes têm as mesmas vinte e quatro horas, o diferencial é saber o que fazer com o tempo. Tempo. Arrepiou. 
     Bom, para resumir, a verdade é que todos, sem exceção, têm a alma pura de uma criança dentro de si. Contudo, alguns adultos e adolescentes entopem este espaço com obras fúteis e profanas, sem espaço para sorrisos sinceros, livros, filmes, a fé e até mesmo a verdade. Cuidado para não ser tarde demais.

(ESTA CRÔNICA FOI ESCRITA COM BASE EM UM PENSAMENTO INSTANTÂNEO SOBRE O ASSUNTO, APÓS EU PASSAR POR UMA LOJA DE BRINQUEDOS. QUE SAUDADE!)