quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O chão do telhado

       Tinha uma casa. Na casa tinha uma menina. Na menina tinha um coração que batia forte por um moço. No moço tinha a galanteza, o sorriso e a alma. Na alma dele tinha um desejo brando de permanecer para sempre na menina da casa. Na casa tinha um telhado. Um telhado mágico, que era o tablado dos desencontros, das inconstâncias e das danças. Ah, eram muitas as noites que o moço e a menina passavam ali, naquele telhado, como se, fora dele, a gravidade fosse separá-los da glória.
       Tinha um luar. No luar, tinha a esperança de desejo recíproco perpétuo. No para sempre tinha o medo na insuficiência, afinal, tinha muitos milênios nos quais o moço e a menina estavam juntos. Na menina tinha um elo infinito com o moço em seu dedo esquerdo. No dedo tinha uma verruguinha imaginária por contar as estrelas no telhado. Na estrela tinha o brilho no olhar da menina, que refletia no firmamento até pairar sobre a pele do moço, sob a luz da Lua e a temperatura dos beijos. No beijo tinha a confirmação daquela paixão arrebatadora que começou no telhado.
       Tinha um telhado. No telhado tinha o chão, que suportaria tudo isso durante a curta eternidade que o moço e a menina teriam para amadurecer e partir para outros telhados.
       Tinha uma vida. E outra vida. Teria tudo isso se a vida que se tinha não tivesse sido tão injusta e mais curta que a eternidade. Tinha tudo, mas não tinha nada.



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