sábado, 21 de julho de 2012

Devaneio (outro)

Boa noite. E que noite! São mais ou menos dez horas e a novela das nove está para congelar. Segundo seu GPS, localizo-me em Maricá, município muquirana da Região dos Lagos. Porém, na minha santa paz de meus olhos que vão muito além do enxergar, estou no paraíso. Para ser mais precisa, encontro-me sentada numa rústica cadeira de balanço, os pés apoiados na grade da varanda de um apartamento, muito simpático até. Enquanto você está lendo isso, provavelmente não estarei mais aqui – ou lá, depende do ponto de vista. Quem sabe estarei fotografando o sol poente, ou os barquinhos navegando rumo ao ganha-pão dessa gente.
Um balão de São João corta o céu inacreditavelmente estrelado. Aos poucos, ele vai sumindo no ar, sendo abraçado pelas lufadas (veja, até elas) hospitaleiras deste canto do Estado. Parei. Suspirei. Puxa, ainda não tinha visto um luar tão belo, mas, ao mesmo tempo, tão crível. É real, sei que é. Pronto. O balão desapareceu, agora só restam aquelas miudinhas estrelas, pipocando no Firmamento, esperando para serem contempladas e exploradas.
A brisa fria empurra as folhas dos coqueiros na direção do mar. Volto, pois, minha atenção a ele. De onde estou, não é possível vê-lo, mas posso senti-lo. Sinto as ondas revoltas lamberem minhas pernas, mais que às de Lulu Santos. Sinto o formigamento de quando meus pés afundam na areia, me chamando para amá-la. Ouço com clareza as águas irem e virem, num fluxo perfeito, renovando-se, refazendo-se, reacomodando-se.
Uma curiosidade muito peculiar fez-me concentrar à esquerda, e, assim, esqueci a calma do mar. Meu lado canhoto mostra-me a alegria da pacata e – é verdade – paupérrima população. É a famosa festa julhina da Rua do Canal, que traz sorrisos, xotes, comidas típicas e a cordialidade interpessoal que você só encontra aqui. As luzes da igrejinha azul brilham como nunca, que felicidade!
            A praça central – e a única da cidade – é repleta de jovens zombando de cada esquina deste lugar ordinário e feio. É sim, não há como discordar. Mas sabem de uma única coisa que difere Ponta Negra de qualquer cidade do planeta? Procure por algum semáforo. Aqui vive-se da simplicidade e do respeito, e se não lhe agrada, vá a Búzios, abarrotada de gente vazia e mesquinha.
            As horas vão passando, no tempo delas, sempre corretas. Só depois de quase uma hora, percebi que é hora de viver a vida real, fora das estrelas, da areia convidativa e do mar furioso. É relaxante e bom para a alma ter esses devaneios voluntários, mas, assim como no relógio daquelas horas, o ciclo sempre voltará a se repetir: outro balão atravessa o céu, agora dois.

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