terça-feira, 31 de julho de 2012

Pelos caminhos da humanidade

            “Assim caminha a humanidade: com passos de formiga e sem vontade.”
            É assim que decidi começar esta crônica. Lulu Santos, vou confessar, nunca foi minha fonte de inspiração, até porque sou preferência à natureza e aos meus próprios questionamentos. Mas, dessa vez, este é o meu questionamento: Como caminha a humanidade? Aonde esta máquina pretende chegar? Por que nunca chegamos a um denominador comum com relação a tudo? Vamos, então, às respostas (minhas).
            Vive-se no planeta uma regressão geográfica pela qual nunca esperamos. Sim, estamos prestes a ver a Pangeia se reencaixar e começar tudo de novo. Todas as guerras. Todas as intolerâncias e todas as lágrimas que o mundo já chorou.  Vamos viver na pele as aulas de Geografia, quando enxergávamos aquele único bloco de terra tão remoto. Não é mais. Não dá mais.
            Não há mais o que se fazer pelo enfermo planeta Terra, que suplica pelo recomeço, quando tudo era tão pleno, quando tudo pertencia a ele, as águas, a flora, a fauna. Tudo parecia estar em seu devido lugar, quando o homem sentiu pela primeira vez o cheiro da pólvora e teve gosto pelo conflito. Tudo o que estava sob controle foi se perdendo num infinito de outras coisas mais que me trouxeram aqui hoje.
            Com quantas formigas se dá um passo de elefante? O estoque armazena sete bilhões de formiguinhas para serem dados oito bilhões de passos de elefante. Só assim o mundo será salvo porque, desculpe-me por estragar sua vida, mas super-heróis não existem. Pelo menos não aqueles com super poderes. O único ‘’super’’ por aqui é o faturamento. Esse tal de super faturamento vive por salvar a reputação e a ostentação de muitos magnatas, principalmente de um ocidental aí que banca uma de dono do mundo. Palmas para quem sabe de quem estou falando.
            Pensando bem, talvez a humanidade esteja mesmo sem vontade de caminhar, de continuar. E eu, como parte do todo, não hesito em concordar. Meu Deus, de quê adianta dar passos de elefante?Para acelerar o processo de degradação biológica comum a todos nós? Se não for câncer, será a AIDS. Pesquisas afirmam que ninguém se esquivará do tiro certeiro do câncer. Já imaginaram?
            A sociedade dos verdadeiros heróis, a dos honestos (quase dizimada) e dos pensadores ainda tenta rastejar, sedenta, pelos solos áridos e inférteis. Nada mais há de crescer no plano terrestre, e o que crescer será daninho. Pra quê serve uma erva daninha? É lixo. A sociedade dos poetas vivos está farta de escrever cartões de melhoras. É ruim ficar na expectativa e não ver nada evoluir. E assim caminha a humanidade alheia ao caos.
            Caos. Alguém me dê um sinônimo convincente. Enquanto ninguém se voluntaria, usei um que até extrapola os limites do caos. Síria. Este país do tamanho de um grão de mostarda, preso no meio do Oriente Médio, mais parece um grão de milho estourando a cada segundo. É assustador pensar que, a cada instante, uma criança, ou mulher, ou estudante é fuzilado pela putrefata ditadura síria. E assim caminha a humanidade islâmica, a terrorista ocidental e religião do futuro.
            Por outros cantos do mundo, caminha a humanidade ignorante, à deriva de informações tantas, mas isso não é bom. Esta humanidade que se desprende da ganância, que sofre das doenças mais rudimentares e – quase – erradicadas, que se esconde na toca da mídia, levanta as mãos em oração e logo as abaixa, vazias. Pedem por dignidade os povos da miserável África pirata. Rezam para seu deus por um ar respirável e, no dia seguinte, morrem de tuberculose. “Ah, ninguém mais morre de tuberculose!”. Na verdade, morrem de ser fortes. São de ferro os soldadinhos que marcham em direção ao cara-a-cara com a Dona Morte. Assim marcha, por becos escuros, as meninas diariamente estupradas que, mesmo vivas, já estão mortas.
            Assim caminho eu, sempre a imaginar dias que nunca nascerão, buscando inspiração na natureza morta que me cerca, o que me leva a, infelizmente, escrever sobre a morte do planeta.

sábado, 21 de julho de 2012

Devaneio (outro)

Boa noite. E que noite! São mais ou menos dez horas e a novela das nove está para congelar. Segundo seu GPS, localizo-me em Maricá, município muquirana da Região dos Lagos. Porém, na minha santa paz de meus olhos que vão muito além do enxergar, estou no paraíso. Para ser mais precisa, encontro-me sentada numa rústica cadeira de balanço, os pés apoiados na grade da varanda de um apartamento, muito simpático até. Enquanto você está lendo isso, provavelmente não estarei mais aqui – ou lá, depende do ponto de vista. Quem sabe estarei fotografando o sol poente, ou os barquinhos navegando rumo ao ganha-pão dessa gente.
Um balão de São João corta o céu inacreditavelmente estrelado. Aos poucos, ele vai sumindo no ar, sendo abraçado pelas lufadas (veja, até elas) hospitaleiras deste canto do Estado. Parei. Suspirei. Puxa, ainda não tinha visto um luar tão belo, mas, ao mesmo tempo, tão crível. É real, sei que é. Pronto. O balão desapareceu, agora só restam aquelas miudinhas estrelas, pipocando no Firmamento, esperando para serem contempladas e exploradas.
A brisa fria empurra as folhas dos coqueiros na direção do mar. Volto, pois, minha atenção a ele. De onde estou, não é possível vê-lo, mas posso senti-lo. Sinto as ondas revoltas lamberem minhas pernas, mais que às de Lulu Santos. Sinto o formigamento de quando meus pés afundam na areia, me chamando para amá-la. Ouço com clareza as águas irem e virem, num fluxo perfeito, renovando-se, refazendo-se, reacomodando-se.
Uma curiosidade muito peculiar fez-me concentrar à esquerda, e, assim, esqueci a calma do mar. Meu lado canhoto mostra-me a alegria da pacata e – é verdade – paupérrima população. É a famosa festa julhina da Rua do Canal, que traz sorrisos, xotes, comidas típicas e a cordialidade interpessoal que você só encontra aqui. As luzes da igrejinha azul brilham como nunca, que felicidade!
            A praça central – e a única da cidade – é repleta de jovens zombando de cada esquina deste lugar ordinário e feio. É sim, não há como discordar. Mas sabem de uma única coisa que difere Ponta Negra de qualquer cidade do planeta? Procure por algum semáforo. Aqui vive-se da simplicidade e do respeito, e se não lhe agrada, vá a Búzios, abarrotada de gente vazia e mesquinha.
            As horas vão passando, no tempo delas, sempre corretas. Só depois de quase uma hora, percebi que é hora de viver a vida real, fora das estrelas, da areia convidativa e do mar furioso. É relaxante e bom para a alma ter esses devaneios voluntários, mas, assim como no relógio daquelas horas, o ciclo sempre voltará a se repetir: outro balão atravessa o céu, agora dois.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Cadê minhas horas?

Quero logo tocar o céu, abraçar a Lua e modificar as estrelas. Quero logo ser gente grande, gritar bem alto e ser ouvida. Crescida. Não concordo com o tempo, nunca, ele passa tão devagar! Fica mais um pouco, toma um chá e come uns biscoitos.
            Não vejo a hora de arrancar a barra da saia da mamãe e levá-la para o campus de uma universidade pública. Perco as horas, e, desorganizada que sou, nunca consigo encontrá-las. Atraso-me para tudo, ainda procurando as horas e minutos. Acho que nunca vi as horas. Poxa, estou ocupada demais sonhando acordada, remando sobre as nuvens.
            Quero logo ser perfeita, me graduar, ser alguém, sabe? Saber é tudo. Tudo tem seu tempo. Só falta eu achar as minhas horas. Achá-las-ei. Sê-las-ei. Alcançá-las-ei. Todos esses tempos verbais me soam tão distantes... fazem até eco. Quero logo desmontar o sistema, consertá-lo e ensiná-lo a andar novamente. Estou farta de escrever, em verso e prosa, o que nunca será lido ou terá seu merecido reconhecimento. Estou cansada de ser menosprezada por minha súbita consciência. Preciso de paz. Preciso encontrar-me. Onde é que eu estou? Será que estou junto com minhas horas? Cadê minhas horas?
            Delírios crônicos paragrafados em crônicas, essa sou eu. Sou crônica. Crônica. Para sempre. É disso que eu quero viver, é isso que quero ser. Quero ser inteiramente texto, de células verbais e substantivas. Pele morfológica e sentidos nominais. Com certeza os passarinhos teriam seu canto mais bonito, as flores seriam mais cheirosas, a seda, mais macia e o horizonte, mais pleno, se tudo fosse sentido em forma de texto. Almejo as próximas sagas, sempre, sempre desejo o próximo do que ainda não terminou. Tenho a ansiedade à flor da pele, e, como diz minha mãe, foi por isso que nasci prematura. Uma bobagem que faz sentido.
            Por falar em sentido, não sou contra pedir orientações quando estou sem um mapa, ou simplesmente com preguiça de procurar mais um pouco. Talvez, se não fosse tão preguiçosa, já teria encontrado minhas horas. “Com licença, a que horas Drummond encontrou suas horas? Sabe qual direção devo tomar para encontrar as minhas? Agradecida.”

segunda-feira, 9 de julho de 2012

10:44 a.m.

     Bom dia. É, esse foi o primeiro bom dia em quatro dias. Há quatro dias o meu coração está aleijado, só bate de um um lado, pois o outro desligou-se. As veias e artérias que faziam meu sangue pulsar por completo me deixaram a fim de fazer um outro coração bater por completo. Pouco sangue ainda corre, me mantém quente e livre da morte. O outro bocado foi-se.
     O bom dia começa pela noite. Esta foi a primeira madrugada sem chorar. Parece até aqueles testemunhos da A.A.A. (Associação dos Alcoólicos Anônimos). Ótima ideia, poderia, desde já, reunir corações pernetas ou amputados à darem suas declarações e gritarem suas superações. "Esta noite não chorei por nós." Por isso foi uma boa noite. Bons dias são decorrentes das boas noites, assim como o riso é a consequência da comicidade e as lágrimas, da solidão. A solidão nos fortalece mais que qualquer outro estado de espírito, sabem por quê? Simplesmente porque não há em quem se apoiar para levantar, ou em quem enxugar o choro amargo e salgado da dureza de perder alguém. Na hora da solidão, é tudo por nossa conta!
     Noite passada, tomei umas boas doses de esperança e alimentei-me de mais outro sonho. Sim, eu sou o ser mais teimoso que já pisou nessa Terra, mas não consigo parar de sonhar. Vivo dos meus sonhos, já que me disseram, quando eu era menor, que, se sonhamos, temos que correr atrás deles. Querer que se realizem já motivo suficiente para tentar. Bom dia! (Segunda-feira, 09/07/2012, às 10:44)

sábado, 7 de julho de 2012

Interrogações de mais uma magoada

     Por que a felicidade nunca pode durar uma vida inteira? Dizem que encontramos a felicidade duradoura nas pequenas coisas, mas e o amor? Não é ele quem deveria nos proporcionar momentos realmente épicos e inesquecíveis? Estamos sempre, principalmente os de boa fé, determinados a pensar naquele ''até que a morte os separe'' e em qualquer conto extraordinário que acabe no ''felizes para sempre''. Todo eles. Escrever sobre a não-reciprocidade no amor é tão difícil quanto escrever sobre o amor em sua forma bruta. Na verdade, passar sentimentos para um papel é árduo, mas a recompensa é incomensurável. Sentimo-nos mais leves, parece que uma dinamite explodiu no coração e expeliu todas as angústias, todas as mágoas e inseguranças que possam estar brotando.
     Hoje, senhores, venho lhes testemunhar a experiência de cair no abismo da amargura e ser beijada pelo Judas do egoísmo e da hipocrisia. Apenas não consigo digerir a ideia de esses dois traços ainda não estarem extintos. Como pode alguém te amar tanto a ponto de omitir que esse amor, na verdade, não é de seu poderio? Ele simplesmente não te pertence, não é para você. Talvez esse seja o original ciclo da vida: você deixa alguém por outra pessoa, e esta te deixa por outra, e segue sucessivamente.
    Não é que eu não aceite o fim de um relacionamento. Não consigo é aceitar o modo como ele acaba. O motivo. Quantas mais rosas seriam compradas? Quantas mais palavras seriam gastas por um amor sujo e errôneo? Quantos mais sonhos seriam sonhados, quantos mais pensamentos seriam pensados a troco de mentiras e uma covardia tão rudimentar? Tudo bem que era inevitável que esse pavio estourasse, mas o impacto da bomba só dependia de nós. Se a verdade emergisse no meio dos escombros antes de todas as vítimas falecerem, talvez ainda houvesse algum sobrevivente.
     Lembro-me de um trecho de minha autoria que diz assim: "Tudo isso é amor maciço e indestrutível. Eu te amo em todas as línguas e religiões. Em todas as doutrinas e distâncias." Não há como não te amar. Não há como apagar tudo o que passou, até porque não sou esse tipo de pessoa. Foi como um conto de fadas, exatamente: o príncipe surgiu dos raios reluzentes do sol, cheio de si. Porém, meus caros, foi embora num jegue capenga e fraquinho, coitado. Talvez fosse melhor mesmo o despertador ter tocado para me fazer acordar de toda essa fantasia que eu mesma criei. Só eu.
     Entrarei agora num processo de desintoxicação amorosa, um rehab sentimental, para abafar todas as frestas de apreço que ainda tinha pela pessoa por quem me apaixonei. Abrir a janela da vida cruel e deixar as lufadas arejarem meus pensamentos com toda a malícia e peculiar crueldade que esse mundo nos oferece.

terça-feira, 3 de julho de 2012

I'm sorry, pardon, scusa. Desculpe-me.

            Desculpa-me pelas vezes em que eu te ignorei, pelas vezes em que eu não pude ajudar você em alguma dificuldade. Desculpa-me se algum dia eu te fiz chorar de tristeza, de raiva, de saudade. Eu sinto tanto a sua falta! Desculpa-me por te amar tanto, tão grande que até esqueço-me do mundo que gira fora do meu coração. Desculpa-me por não conseguir te odiar nem um pouquinho, ou por te querer comigo o tempo todo.
            Desculpa-me por ser tão neurótica e possessiva, e por ficar te pedindo desculpas por tudo. É que eu me sinto na obrigação de ser tão perfeita quanto você. E, se alguma coisa falha, não consigo ‘’deixar por isso mesmo’’. Perdoe-me por ser essa romântica patética, pré-histórica e que, certamente, te dá náuseas. É que eu quero ser teu Shakespeare, te levar rosas todas as noites e te esperar debaixo da tua varanda.
            Perdão pela minha ausência, por pensar em você desde janeiro, sem pausas. Sem descansos. Perdão se é errado sonhar contigo todas as noites, sem exceções. Perdão por querer abraçar o mundo com as pernas, mas essa é quem eu sou. É essa boba quem se apaixona por você cada dia mais. Esperei tanto tempo por alguém que eu pudesse cuidar sem me enganar ou me machucar. Sinto que agora, mesmo com tantos obstáculos, encontrei esse alguém. Sinto muito por esse alguém ser você.