domingo, 3 de junho de 2012

Instrangeirismo


Brother, acende o abajur aí que eu preciso fazer a lista de compras: shampoo, chá, chocolate, baguete, alface, pipoca. Você está com fome? Pensei em irmos comer uma pizza e tomar uma cerveja.”
            Nossa Língua está repleta de palavras oriundas de outras nações em outras épocas, as quais usamos, exageramos e não percebemos. A este fenômeno damos o nome de estrangeirismo.
            O estrangeirismo, até um certo patamar, não é uma ameaça ou motivo de preocupação. Se formos analisar minuciosamente, o Português Brasileiro contém, naturalmente, palavras ou expressões nascidas do Tupi Guarani. Ou seja; não há como fugir dele.
            Vivemos no Brasil uma revolução sem precedentes: tornou-se a sexta economia mundial, gerou um número notável de empregos pelos quatro cantos do país e está completamente globalizado. Mestiço. “Somos o que somos, instrangeiros”, diria Arnaldo Antunes se a abordagem da música “Inclassificáveis” fosse esta.
            Sim. Somos instrangeiros alimentando-nos do mais remexido estrangeirismo. Não sabemos mais quem somos ou por que falamos assim. Talvez sequer sabemos falar. É nítida a analfabetização do povo, o regresso cultural. Estamos, gradativamente, perdendo nossa essência. A bandeira se resume, então, num verde azulado e num amarelo envelhecido. Salve senhor Zé Ramalho. Devo minhas reverências ao estúpido culto do interior da Bahia.
            Sabe o que parece? Um bombardeio palavrial e uma ditadura delas mesmas:
            – Olá, meu nome é Apagar. – disse a franzina palavra brasileira.
            – NO! NOW YOUR NAME IS DELETE! – berrou o ditador.
            – Sim, senhor, sou Deletar, mas não me mate! Tenho seis filhos para criar! – respondeu Deletar, aflito e trêmulo.
            Somos legítimos brasileiros sem um pingo de amor pela nação. Por este motivo, não deixamos de ser ignorantes. Pagar de esperto e “cult” ao escrever na barraquinha de lanches: X-BURGUER e MIXTO QUENTE. Gostaria mesmo é de entrar na cabeça de cada um, junto a um potente aspirador, e lavar o consciente defeituoso de todos nós, até de mim mesma. Fazer uma dieta de cultura; só entra palavra caseira.
            “Eu gostaria de falar com presidente pra cuidar melhor da gente que vive nesse país. Nossa gramática está tão dividida, tem gente falando happy pensando que é feliz.” (RAMALHO, Zé, em Estrangeirismo)